Pesquisa e Inovação

Frequência de crises epilépticas cai com a prática de exercícios

A prática regular de exercícios físicos deve se transformar em aliada para melhora da qualidade de vida das pessoas com epilepsia. É um dos apontamentos de tese de doutorado da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (Esef-UFPel). A frequência das crises caiu 85,7% ao longo dos três meses em que os participantes do estudo se mantiveram ativos, com atividades aeróbicas, de força e de flexibilidade e alongamento duas vezes por semana.

Das dez pessoas que fizeram parte do grupo que realizou os exercícios, apenas uma delas teve crise no período do acompanhamento. Antes de se transformarem em voluntários da pesquisa, dos dez, sete haviam sofrido crises epilépticas nos três meses anteriores. Se considerados os outros dez integrantes do estudo, mas que faziam parte do grupo controle – que se manteve sem a prática de exercícios -, cinco pessoas tiveram crises. Um número que, praticamente, não se alterou em relação à realidade de antes da análise, quando seis deles haviam enfrentado as crises.

“A hipótese é de que melhorar o condicionamento, melhorar a aptidão física, melhorar os níveis de força ajuda na melhora dos outros desfechos de saúde: na qualidade de vida, na redução dos níveis de estresse”, destaca o autor da tese, César Augusto Häfele. “E auxilia no controle das crises epilépticas também”, reitera. VEJA A MATÉRIA COMPLETA AQUI https://www.diariopopular.com.br/geral/frequencia-de-crises-epilepticas-cai-com-a-pratica-de-exercicios-160167/

Reconhecimento internacional e mais aprofundamento

Os resultados já se transformaram em três publicações nas revistas Epilepsy – a mais importante sobre o assunto no mundo -, Motriz e Epilepsy & Behavior. E a intenção é de que a produção científica com este público-alvo não pare. Até o momento não é possível cravar que um programa de atividades físicas seja caminho para prevenção das crises, mas dá para encarar os exercícios como tratamento auxiliar.

“Demonstramos a possibilidade de não tratar o sujeito só com medicamento específico. É possível utilizar outras abordagens não farmacológicas que possam auxiliar o tratamento”, destaca César Häfele. E lembra que ao contrário de outras doenças crônicas não transmissíveis como o diabetes e os problemas cardiovasculares, em que os treinos são costumeiramente recomendados, quando o tema volta-se à saúde mental e aos quadros neurológicos, ainda usa-se pouco o aconselhamento da prática de atividades físicas.

Daí a importância de o assunto permanecer em debate, inclusive, com ênfase durante a formação dos novos educadores físicos. A intenção de transformar o programa de exercícios em projeto de extensão da UFPel acabou postergado, com a chegada do novo coronavírus. Após o fim da pandemia, o plano deverá retornar à pauta.

“A ginástica ajudava a amenizar a carga do dia a dia”

A meteorologista Gilsane Costa Pinheiro, 60, é taxativa: os exercícios ajudavam a reduzir a tensão do dia a dia. Mas mais do que se animar com os treinos, ela apreciava a interação social com os outros integrantes da pesquisa. No começo de 2020, chegou a convidar o marido e se matricularam na academia de um clube para que pudesse dar continuidade às atividades físicas. A pandemia, entretanto, atrapalhou os planos. “Tivemos que recuar na ideia, mas quando for possível queremos ir”.

Já são 53 anos convivendo com a epilepsia, com crises em diferentes ambientes: na escola, na faculdade, no trabalho. Em casa. Na rua. E, não raro, Gilsane precisou superar o preconceito que até hoje acompanha a doença. “Em uma das vezes, quando acordei da crise, uma senhora estava dizendo que era efeito do uso de drogas. Imagina, nunca fumei na vida”, afirma.

E sustenta: o aspecto emocional costuma ter peso importante. Foi exatamente o que ocorreu há cerca de três semanas: abalada com o cenário da Covid-19 em Pelotas e ansiosa com a espera pela vacina, Gilsane enfrentou a primeira crise de 2021. “Por isso quero me dedicar aos exercícios. Em seguida vou me aposentar e tenho medo das consequências de uma cabeça muito parada”.

– A pesquisa contou com 20 participantes na faixa etária dos 18 aos 60 anos, sedentários. Foi o total de voluntários que surgiram após a fase de recrutamento.

– 10 pessoas, definidas por sorteio, integraram o grupo exercícios e – ao longo de três meses – realizaram atividades físicas duas vezes por semana.

– Outras 10 pessoas fizeram parte do chamado grupo controle e embora não tenham realizado os treinos práticos, também participaram de acompanhamento, através de questionário e do Diário de Crises, em que poderiam narrar detalhes dos episódios – caso ocorressem – como o turno e o tempo de duração.

– Os resultados da tese foram obtidos através da comparação entre os dois grupos e também com um paralelo em relação aos três meses anteriores à pesquisa. Confira o que ficou comprovado, entre os participantes do grupo exercícios:

* Redução de 85,7% na frequência das crises;

* Crescimento 27,6% na qualidade de vida;

* Redução de 14,5% nos níveis de depressão;

* Queda de 14,5% nos níveis de estresse;

* Aumento de 11,4% da força;

* Melhora de 8% na função cognitiva;

* Aumento da aptidão física em 6,4%.

Detalhe: Os 14,5% de queda nos níveis de depressão não representaram diferença significativa, estatisticamente falando, quando comparados os dois grupos. Se a amostra da pesquisa fosse maior, possivelmente, isso ocorreria, já que as pontuações variam conforme o instrumento utilizado e o tema em análise.

Saiba mais: A tese de doutorado teve como orientador o professor da Esef, Marcelo Cozzensa. O Instituto Federal-Sul-Rio-Grandense (IFSul), onde César Augusto Häfele atuava como professor substituto, foi um dos apoiadores do estudo e destinou R$ 2 mil para cobrir os custos com o transporte dos participantes.

FONTE: DÍARIO POPULAR